segunda-feira, 23 de março de 2015

das coisas que a vida ensina

Agora você vai à escola.
Escolhemos uma aqui perto de casa, é católica com apostila evangélica, tem um cardápio balanceado - pizza e banana- e parece um pouco com o colégio da minha infância.
Eu gosto de lá, apesar de não concordar com os pirulitos grudados na agenda.
Você adora.
Bastou completar os 3 pra começar a pedir mais amigos.
Lá você tem: Vinícius, Pedro, 2 Júlias e uma Valentina.
São o assunto quando eu te busco.
E também as músicas, coreografias e umas palavras em inglês.
Vamos aprendendo filha, você e eu.

Toda tarde eu fico com saudade, acredite.
Assim que te deixo no portão e vejo que você vai descendo a rampa, sozinha, carregando nas costas a mochila de borboleta, me dá um nó na garganta.
Não é tristeza, nem de longe.
É uma felicidade absurda, que me enche de amor e ocupa todas as partes do meu coração.
Eu mal posso acreditar no quanto crescemos.
Mal posso acreditar na menina incrível que você se tornou.

Você minha Marina, apesar de agitada e arteira, é de uma delicadeza linda
Sensível a ponto de chorar de alegria
E ainda me abraçar emocionada quando percebe que eu também chorei com aquele filme da Páscoa.
Eu só consigo agradecer
Porque jamais sonhei com tanto.

Todo o amor,
Mamãe.



quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Pra você saber das cartas, cartões e papéis


Sabe Marina, eu estou me dando um presente.
Talvez esteja lhe dando um presente, saberemos mais tarde.
Sentada aqui, escrevendo esse texto enquanto deveria estar estudando, me pergunto, perdendo ou ganhando?
Mas eu nem sei porque lembrei dessa coisa tão antiga, e também não sei porque senti urgência em registrar.
Deve ser pra não esquecer isso junto com tantas outras pequenices que deixamos passar alegando falta de tempo.
Deve ser porque eu sei, que mesmo com os maiores esforços, não te darei o prazer do cheiro de um papel de carta, ou o gosto de um selo colado no envelope que viaja por aí, ou a delícia dos bilhetes escritos em guardanapos.
Você já nasceu teclando e não há de existir por aqui uma vizinha como a minha.
Eu tinha uma vizinha filha, da qual não me lembro o nome, a filha dela era minha amiga na infância e se chamava Beatriz.
A mãe da Beatriz fazia cartões de papel vegetal.
Papel vegetal, será que eles ainda existem?
Eu ia na casa dessa vizinha pra brincar, mas quando chegava lá não conseguia fazer outra coisa que não fosse observá-la naquele trabalho tão incrível.
Ela ia pontilhando o papel extremamente delicado, formando bem devagarzinho desenhos lindos que ficavam branquinhos e marcavam um relevo no papel fino e transparente.
Parecia mágica. Só podia ser.
E aí alguém comprava aquele cartão, e desejava coisas lindas que combinavam com as florzinhas, e entregava pra um amor.
A poesia existia.
As pessoas enviavam felicidade umas às outras, e escreviam. Assinavam. Deixavam registrado que naquele dia lembraram de alguém.
Você minha Marina, vai receber algumas mensagens pelas redes sociais, vai escrever emails, e do seu jeito, moderno, continuará se comunicando.
É preciso.
Mas eu sinto minha pequena, que não te mandarão um correio elegante.
E sinto muito.

Por isso queria te lembrar de vez ou outra rabiscar.
De contar seu carinho, entregar.
Por que poucas coisas no mundo são melhores que papeizinhos.

Com amor, sua velha mãe.


sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Passou

2014 foi um ano difícil.
E quase ninguém notou porque a tempestade acontecia aqui, do lado de dentro.
Sai poucas vezes da concha, e devo ter tido pouquíssimos minutos de cabeça fresca.
Meus miolos trabalharam sem parar. 
Já eu, parei.
Precisei.
Tive que aceitar: o sonho de viver um trabalho de amor era mesmo um sonho.
As coisas ficaram difíceis, as contas se acumularam, eu não conseguia acertar, tentei, investi meu pouco dinheiro, todo o meu tempo, gastei meu bom humor, e fui amargando, até não ver mais doce algum.
Nem a raspa da panela.
Nada.
Tive que ouvir meu marido, dar o braço a torcer.
Aliás brigamos muito neste ano, eu e ele.
Nada grave, mas sofremos com as coisas fora dos trilhos.
Nos abraçamos no final de cada discussão, perdoamos.
Nos entregamos.
Devolvemos um ao outro nosso melhor. 
Firmes.
2014 passou rápido, e isso eu preciso agradecer.
Levou com ele meus planos, me deixou vazia, sozinha.
Acho até que nunca estive tão sozinha.
Mas não me chamem de ingrata, se tem algo que cultivei aos montes no ano que passou foi essa tal gratidão.
Eu agradeci pelo sol nascendo enquanto caminhava pra aula de pilates, agradeci infinitamente por nossa saúde, agradeci por ter boa comida na geladeira, agradeci as inúmeras manifestações de amor e carinho da minha Marina, agradeci por ter escolhido o companheiro certo, agradeci a mão amiga da minha mãe e não esqueci nem um dia da benção que é viver nesse mundo e não ser vítima de violência.
Um ano de paz.
Também fui feliz com a viagem que fizemos quando 2014 já estava pra acabar, consegui, enfim, esfriar a cabeça e repensar minha vida.
A vida da minha família.
2014 foi pesado, e eu me deixei tocar pelos problemas dos outros ao extremo. 
Passei noites aflita com a guerra, os mortos, as famílias, os motivos.
Chateada com a polícia, aborrecida com a política.
Chorei algumas vezes ouvindo meu vizinho xingar aos berros a filha de 3 anos. Idade que minha filha faz daqui uns dias.
Mas acabou, e como se fosse mágica, no fim de tudo eu vi uma luz.
Começo este ano novo quase nova, tentando aos poucos me livrar das amarras e pronta pra tentar mais uma vez.
Os caminhos são outros, as dificuldades também.
Mas se tem uma coisa que esse tal de 2014 me ensinou é que, haja o que houver, o sol nasce outra vez, e observar esse ciclo me enche de esperança.
Um feliz ano, pra todos nós!



quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Política para crianças. De acordo com quem não sabe nada sobre política.

(oi, antes que você comece, um pequeno aviso: se você é daqueles que defendem candidato e partido como se fossem jogador e time de futebol, por favor, não se dê ao trabalho de ler, esse é um texto de amor, que não visa brigas ou discussões políticas)

É claro que você ainda é muito pequena pra pensar em eleições, mas Domingo nós vamos votar.
Logo que começaram as campanhas políticas eu quase desisti.
Ia desistir do meu direito de escolher porque, sinceramente, eu não via opção.
O mundo anda estranho filha, nosso país também.
E não é que as coisas estejam ruim pra nós, veja bem, temos chocolate importado no armário da nossa casa.
Mas sabe de uma coisa minha pequena, tem gente por aí que não come arroz e feijão há muito tempo. Tem gente que não vai ao dentista, que não faz nem duas refeições por dia e que não tem a mínima condição de conseguir um emprego decente.
E essa gente precisa de ajuda, da nossa ajuda.
Vez ou outra vejo alguém reclamar dos programas assistenciais que temos por aqui. Eu reclamo que sejam poucos.
Não dá pra viver a vida olhando pro próprio umbigo.

Então no Domingo eu quero te levar no colégio onde voto, pra você ver a cara dos candidatos na urna, pra ir se acostumando com o nosso jeito de escolher.
Quero te contar que depois de bater a cabeça pensando em 3 candidatos como se fossem os únicos eu acabei descobrindo que, como a maioria dos meus amigos, ando meio tapada.
Ainda temos algumas opções sabe filha, e escolhendo um desses que ficam lá pra trás nas pesquisas eu me senti sonhadora outra vez.
Não desse jeito ruim, que diz que quem vota em quem não tem chances tá jogando o voto no lixo.
Me senti sonhadora como fui um dia, votando pela primeira vez num candidato barbudo que representava pra mim uma revolução.

Eu escolhi por nós duas.
E vamos as duas votar por um desenvolvimento sustentável e uma cultura de paz.
É legal pensar nisso não é? Uma "cultura de paz", já pensou em tudo que isso pode significar?
Eu ando pensando.
Tentando imaginar seu futuro, tentando te criar pro mundo, pra que você seja livre e independente pra fazer suas escolhas.
Eu ando pensando em te dizer umas coisas, coisas que você só vai entender quando for maior, e que por isso eu registro aqui.
Minha menina, quando chegar sua vez, não escolha um candidato porque seu pai e sua mãe votam nele. Escolha. De verdade.
E nunca, jamais, em hipótese alguma, se conforme com coisas que não são aceitáveis.

Com amor,
Mamãe (sempre inconformada)

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Pro seu pai, Marina

Eu te amo, e você nunca esquece
Mas parece que às vezes a gente se deixa
Não que estejamos perdidos, veja bem, nos encontramos sempre 
Quase todas as noite, depois que Marina dorme
Temos um pouco de tempo
Mas precisamos dar conta da louça, juntar os brinquedos, lavar os cabelos
E depois somos um do outro
A não ser que a gente prefira dormir
O que acontece muito
Mas não se culpe
E já faço isso, por nós dois
Acredite, lamento a falta de energia
E agradeço, de olhos fechados, por ter seu braço como travesseiro
Por me admirar cansada
Por esperar que eu acorde disposta
Bem.

Você me ama, e eu nunca esqueço
Mesmo quando te deixo falando sozinho
É por amor
Porque preciso evitar que Marina enfie o grampo na tomada
E que quebre os poucos copos que restam
E que caia de cima da estante
Eu volto, assim que colocar um desenho que ela goste
E se for possível gostaria que você terminasse de contar o que começou a falar ontem
Eu me lembro
Te peço, seja paciente
Preciso da sua calma, aquela de anos atrás
Que equilibrava minha ansiedade com perfeição

Lembra da gente?
Eu sim,
E queria te encontrar hoje a noite
Prometo, vou tomar um café bem forte
E lavar o rosto com a água gelada
Porque quero te ver direito
Por uma hora ou mais
Quero saber do seu dia enquanto mexo nos seus cabelos
E te mostrar que ainda estou aqui
Aos pedaços
Esperando você me juntar.



sexta-feira, 25 de abril de 2014

É tão simples complicar


De uns tempos pra cá as questões que mais ecoam na minha cabeça estão relacionadas com a busca por uma vida mais simples.
Acredite, apesar de contraditório, simplificar é bem complicado.
A parte inicial do processo é, ao meu ver, a mais difícil: pra começar preciso desapegar.
Engraçado que muitas vezes me convenço facilmente de que não preciso de tanto, que não devo me influenciar por marcas, que comprar brinquedos aos montes não faz minha filha mais feliz. Mas às vezes, quando me distraio, me pego influenciada pela televisão, pelos amigos, por vitrines, pela internet.
São os antigos vícios e costumes, essa mania besta de relacionar ser com ter.
Eu estou bem longe de ser radical, mas também não quero tapar os olhos e deixar minha família ser dominada pelo consumismo.
Depois que a Marina chegou, o que mais tenho buscado é um meio termo, algo parecido com o que tive na infância já seria um ótimo começo.
Não faz tanto tempo assim, mas de lá pra cá muita coisa mudou, não é mesmo?
Hoje estamos cada vez mais confinados, presos em nossos apartamentos e casas sem quintal, vivemos aniversários em buffets, feitos em larga escala, queremos educação bilíngue, enchemos nosso carrinho de industrializados saudáveis e oferecemos às nossas crianças maçãs da mônica, crentes de que estamos fazendo nosso melhor.
Mas sabe, eu quero um pouco menos.

Gostaria de ouvir menos barulho de carro e também de ter menos tralha nos armários. Em todos eles. Quero menos potinhos de plástico, menos televisão ligada, menos facebook, quero diminuir a conta de luz e também as idas ao salão de beleza, quero me olhar menos no espelho e lembrar de olhar pra dentro, menos dias perdidos no transito, menos remédio.

Eu quero me comparar menos.

Por aqui caminhamos como formiguinhas, mas também nos damos o direito de não ter pressa. Temos cuidado um pouco mais do jardim e eu já venho sonhando com um espaço para tomates cerejas, a fruta preferida da minha Marina. Quero também uma composteira pra sentir menos culpa e alimentar as plantinhas. E alguns novos amigos pra compartilhar essas ideias.

Eu andei sumida, porque precisava organizar alguma coisa que andava torta aqui dentro. Isso acontece às vezes, quando insisto em complicar.

Não vou desistir de abastecer esse espaço porque gostaria muito, que num futuro próximo, minha filha soubesse das tentativas que fizemos, dos erros que cometemos e das vezes que pensamos acertar.

Vou tentando simplificar, e registrar.




segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Você é linda

Faz tanto tempo que não venho aqui....
Mas hoje não podia deixar passar
Queria guardar pra você uma história emocionante
A história do tombo.

Eu e você estávamos cruzando a rua em frente da casa da vó Neninha
Você com o convite do aniversário na mão, pronta pra entregá-lo pra Juju
Eu decidi te pegar no colo, porque o tempo era de chuva e eu queria chegar rápido do outro lado
Quando estávamos prestes a pisar na calçada eu escorreguei.

Cai com você nos braços,
ralei o punho, a palma da mão, rasguei a calça, machuquei o joelho, esfolei os dois peitos do pé e meu dedão esquerdo parece meio quebrado, roxo e inchado.
Mas você estava a salvo, e eu fiquei orgulhosa da minha habilidade.
Um moço que estava no ponto de ônibus veio ver se tava tudo bem.
Um outro deu ré no carro e voltou pra oferecer ajuda.
- Tudo bem.
Eu respondi meio que tremendo, sentada no chão com você no colo.
Dei uma olhada pra checar se você tinha sangue em algum lugar, mas nada, estava inteirinha.
E você me olhou assustada, com os olhos arregalados, e disse baixinho:

- Você está linda mamãe!

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Pra você saber de mim

Filha querida, eu cresci.
E posso até afirmar, sem medo de parecer arrogante, que sou melhor.
Daqui de onde estamos lembro que antes de tê-la eu era um tanto superficial, uma menina legal, eu acho, divertida e bem disposta. 
Uma garota cheia de sonhos mas sem nenhum plano.Eu era eu, mas menos.
Tive uma fase boba sabe, de tentar me parecer com as pessoas, de querer fazer parte, de tentar me incluir. Eu acabei esquecendo de me olhar, porque ficava vidrada nos outros e depois queria imitar. 
Cheguei até a querer uma bolsa cara mesmo sem gostar de bolsa. 
Aprendi o nome de umas 14 marcas de maquiagem importada, e queria tudo, até pincel pra passar batom. Logo eu, que gosto de lambuzar os dedos.
Eu comecei a encanar com a celulite e aumentei o comprimento dos shorts.
Eu comecei a acreditar que era fundamental andar de salto.
Eu me sentia gorda, feia e comprava revistas com mulheres fotoshopadas até o dedão do pé.
Ah Marina, eu andei perdida.
Só conversava sobre coisas que não causassem polêmica, e quando discordava de alguém, eu engolia, e olha que já tive fama de briguenta.
Fiquei morna, chata, fiquei esquisita.
Eu não me sentia bem, mas tudo bem, estava agradando.
Deixei de ouvir Bob Marley e Tribo de Jah, minha casa era muda.
Não queria incomodar.
Acho até que emburreci.

Mas aí veio você, de surpresa, e antes mesmo de sair da minha barriga você me despertou!
Você me lembrou de olhar pra dentro, no sentido mais literal da frase.
Eu quis ficar sozinha, e em vários momentos chorei.
Me sentava no chão do banheiro, com a barriga repleta de você e deixava cair a água e as lágrimas.
De uma vez.
Eu estava me buscando, e você, com sua mãozinha pequena, cutucava minhas costelas e falava:
Eu amo você mamãe. Amo seu lado de dentro.

Esse nosso tempo dentro da concha me colocou de volta no mundo.

Pra fora. Pra viver a vida desse jeito que eu acho certo.
Tentando simplificar as coisas, agradecendo.
Andando descalça na grama ali da frente, dividindo com você as pitangas.
Correndo, correndo.
Sem salto.
Porque a vida vem aos poucos, e nada precisa ser pulado.

Eu vou te amando. E basta.

Mamãe.



terça-feira, 22 de outubro de 2013

Marinês

Pequena cantora,
Eu não consigo conter a emoção diante das letras que você inventa.
Não basta aprender a musiquinha, tem que colocar uma pitada do seu tempero.
Além dos clássicos você cria algumas, como essa de ontem:

Diante do pote vazio de muçarela de bufala você soltou a voz cheia de ritmo:

- O queijinho caboooooou, num tem mais queijinhoooooo, lalala, cabou tudo o queijinhooooo.

A minha preferida do momento é essa aqui, que você canta cheia de sentimento:

- ... Ninguém podia fazer quiqui, purque pinico num tinha ali, mas era feita com mero mero na rua dos bobos numero mero.

E ainda tem a da barata, o marcha soldado, o peixinho que tirava a marina do fundo do mar... Mas essas você canta bem certinho!

Vai crescendo minha menina, você está se tornando uma criança muito divertida.

Obrigada por encher nossa casa de alegria.
Com mero mero,
mamãe.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013