Fora da concha

E então a vida deu uma daquelas boas viradas
Há pouco tempo desisti do meu emprego como redatora publicitária,mas não foi de uma hora pra outra. Pensei bastante, tirei férias, conversei com a família, repensei meus valores e planos, e concluí que precisava ter mais qualidade de vida.
Trabalhar 8 horas por dia, com horários rígidos e sem perspectiva de crescimento profissional estava acabando comigo, com minha saúde.
Fui ao médico antes de pedir as contas e ele me diagnosticou estressada.
Logo eu, sempre tão na boa.
Me senti ainda mais fraca depois dessa consulta, mas vi que precisava tirar forças de algum lugar e mudar de vez.
Sentia falta de ficar com minha filha, de conversar com meu marido, de dar atenção para as amigas e o principal, sentia falta de mim mesma. Eu estava perdida no meio de um monte de escolhas erradas.
Tive apoio de todos à minha volta, e isso foi essencial.
Eu, que sempre fui chorona, não derramei uma única lágrima na minha despedida do emprego. Me sentia aliviada.

Até tentei continuar na mesma área imaginando que talvez eu só estivesse cansada de trabalhar na mesma empresa, sempre atendendo o mesmo cliente.
Mas não era isso.
Eu queria mais.
Queria ser dona do meu nariz, construir meus horários de acordo com minhas necessidades, ver minha filha crescer, cozinhar o jantar com prazer e voltar a pintar as unhas.
Eu queria fazer docinhos.
E estou fazendo.
O novo negócio está fluindo, de vagar, cozinhando em fogo baixo como um bom brigadeiro.
E eu recuperei a paciência e perdi as olheiras.

O tempo continua precioso, e eu gasto muitas horas no fogão testando e inventando receitas, mas isso não é só meu emprego, é um de meus maiores prazeres!

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Da menina realizada, Lê