segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Pra você saber de mim

Filha querida, eu cresci.
E posso até afirmar, sem medo de parecer arrogante, que sou melhor.
Daqui de onde estamos lembro que antes de tê-la eu era um tanto superficial, uma menina legal, eu acho, divertida e bem disposta. 
Uma garota cheia de sonhos mas sem nenhum plano.Eu era eu, mas menos.
Tive uma fase boba sabe, de tentar me parecer com as pessoas, de querer fazer parte, de tentar me incluir. Eu acabei esquecendo de me olhar, porque ficava vidrada nos outros e depois queria imitar. 
Cheguei até a querer uma bolsa cara mesmo sem gostar de bolsa. 
Aprendi o nome de umas 14 marcas de maquiagem importada, e queria tudo, até pincel pra passar batom. Logo eu, que gosto de lambuzar os dedos.
Eu comecei a encanar com a celulite e aumentei o comprimento dos shorts.
Eu comecei a acreditar que era fundamental andar de salto.
Eu me sentia gorda, feia e comprava revistas com mulheres fotoshopadas até o dedão do pé.
Ah Marina, eu andei perdida.
Só conversava sobre coisas que não causassem polêmica, e quando discordava de alguém, eu engolia, e olha que já tive fama de briguenta.
Fiquei morna, chata, fiquei esquisita.
Eu não me sentia bem, mas tudo bem, estava agradando.
Deixei de ouvir Bob Marley e Tribo de Jah, minha casa era muda.
Não queria incomodar.
Acho até que emburreci.

Mas aí veio você, de surpresa, e antes mesmo de sair da minha barriga você me despertou!
Você me lembrou de olhar pra dentro, no sentido mais literal da frase.
Eu quis ficar sozinha, e em vários momentos chorei.
Me sentava no chão do banheiro, com a barriga repleta de você e deixava cair a água e as lágrimas.
De uma vez.
Eu estava me buscando, e você, com sua mãozinha pequena, cutucava minhas costelas e falava:
Eu amo você mamãe. Amo seu lado de dentro.

Esse nosso tempo dentro da concha me colocou de volta no mundo.

Pra fora. Pra viver a vida desse jeito que eu acho certo.
Tentando simplificar as coisas, agradecendo.
Andando descalça na grama ali da frente, dividindo com você as pitangas.
Correndo, correndo.
Sem salto.
Porque a vida vem aos poucos, e nada precisa ser pulado.

Eu vou te amando. E basta.

Mamãe.



Um comentário:

  1. Nossa que post lindo, me arrepiou!! Adorei a ideia de contar de ti para a Marina.
    Beijões Lê
    Blog Antonella e sua Boneca

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