quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Pra você saber das cartas, cartões e papéis


Sabe Marina, eu estou me dando um presente.
Talvez esteja lhe dando um presente, saberemos mais tarde.
Sentada aqui, escrevendo esse texto enquanto deveria estar estudando, me pergunto, perdendo ou ganhando?
Mas eu nem sei porque lembrei dessa coisa tão antiga, e também não sei porque senti urgência em registrar.
Deve ser pra não esquecer isso junto com tantas outras pequenices que deixamos passar alegando falta de tempo.
Deve ser porque eu sei, que mesmo com os maiores esforços, não te darei o prazer do cheiro de um papel de carta, ou o gosto de um selo colado no envelope que viaja por aí, ou a delícia dos bilhetes escritos em guardanapos.
Você já nasceu teclando e não há de existir por aqui uma vizinha como a minha.
Eu tinha uma vizinha filha, da qual não me lembro o nome, a filha dela era minha amiga na infância e se chamava Beatriz.
A mãe da Beatriz fazia cartões de papel vegetal.
Papel vegetal, será que eles ainda existem?
Eu ia na casa dessa vizinha pra brincar, mas quando chegava lá não conseguia fazer outra coisa que não fosse observá-la naquele trabalho tão incrível.
Ela ia pontilhando o papel extremamente delicado, formando bem devagarzinho desenhos lindos que ficavam branquinhos e marcavam um relevo no papel fino e transparente.
Parecia mágica. Só podia ser.
E aí alguém comprava aquele cartão, e desejava coisas lindas que combinavam com as florzinhas, e entregava pra um amor.
A poesia existia.
As pessoas enviavam felicidade umas às outras, e escreviam. Assinavam. Deixavam registrado que naquele dia lembraram de alguém.
Você minha Marina, vai receber algumas mensagens pelas redes sociais, vai escrever emails, e do seu jeito, moderno, continuará se comunicando.
É preciso.
Mas eu sinto minha pequena, que não te mandarão um correio elegante.
E sinto muito.

Por isso queria te lembrar de vez ou outra rabiscar.
De contar seu carinho, entregar.
Por que poucas coisas no mundo são melhores que papeizinhos.

Com amor, sua velha mãe.


4 comentários:

  1. Que lindo e tocante te ler. E "perder" tempo assim, com cartas, cartões, papeizinhos faz mesmo muita falta! ADOREI e temos que reviver tudo isso! Devemos fazer uma volta ao passado...bjs, chica

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    1. obrigada Chica querida! Sou sempre a favor de voltarmos no tempo e resgatarmos as coisas que nunca deveriam ter se perdido. Beijo

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