quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Amoras


Filha pequena,
Acabamos de chegar da feira.
Entre tantas coisas compramos um potinho de amoras que custou 6 reais.
Eram amoras verdadeiras, pretas e miúdas, daquelas de quando eu era menina.
Sabe Marina, quando eu era criança a gente achava amora em tudo que é canto, no quintal do tio Carlão, nos muitos pés espalhados pela AABB, e até na rua. Acredite, só não tinha amora no supermercado.
Agora tá tudo diferente, as pessoas trocaram as árvores frutíferas pelas ornamentais, então os quintais não têm sabor, mas ainda são lindos, um pouco mais retos, construídos pelo paisagista.
Fico um pouco triste quando imagino que você não vai crescer como eu, trepada no pé de ameixa amarela - que no mercado chama nêspera, tem um tamanho absurdo e um preço desonesto - comendo fruta a vontade, com as mãos sujas de terra.
Gostaria de ter um quintal como o da casa em que cresci, lá tínhamos uma árvore pra cada um de nós: o abacateiro do seu vô Milton, a macieira da vó neninha, o limoeiro do seu dindo e a mangueira que era minha. Que fruta você escolheria?
Faz um tempo plantamos juntos, em frente à nossa casa, um pezinho de pitanga, presente da tia Sônia. Ele acaba de produzir sua primeira florada, você ficou apaixonada e cuida de regar a árvore em tempos de seca.
Vamos dizer que ela é sua, e torcer pra que você não se contente com as amoras gigantes e sem nenhum sabor que vendem no mercado.
Vou te pedir pra esperar a época certa, e procurar as pretinhas na feira.
Vou tentar te ensinar o valor das coisas simples, tão caras hoje em dia, como este pequeno pote de amoras que nos custou 6 reais.

Amo você,
mamãe.


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